Saudade

(Paul Kelley)

Visto-me da monotonia dos dias carregando o fardo da saudade.

Dupla

(Ans Markus)


Esmagara-se-lhe o peito da falta. Restava-lhe respirar devagar, para que a dor não a matasse de vez. Decidiu ser outra, fazer de conta que era ela mas não o ser. Passou, então, a ser duas...

Fingimento

(Amedeo Modigliani)

Enchia o peito de ar para fingir que ainda tinha coração.

Só

(imagem daqui)

Fui mulher tantas vezes nas tuas mãos que eram ternas. Não sei, agora, sê-lo. De mim, resta a sombra que não sabe perder-se de ti, quando a ternura das tuas mãos já não é minha.

Palavras

(Gustav Klimt-water serpents)

Nunca temi as palavras. Uso-as com doçura, com agressividade. Uso-as polidas, desabridas, pudicas, ardentes. As palavras, mesmo as não ditas, são a minha essência. Tenho saudades de dizer-tas.

Mãos

As tuas mãos. Sempre as tuas mãos, ardendo como brasas no meu corpo em ânsia pelas queimaduras de terceiro grau.

Pesa-me o lençol

Agudizam-se as lembranças na escuridão da noite. Pesa-me o lençol, carregado das imagens de ti.