terça-feira, 28 de abril de 2015

domingo, 26 de abril de 2015

Dupla


(Ans Markus)


Esmagara-se-lhe o peito da falta. Restava-lhe respirar devagar, para que a dor não a matasse de vez. Decidiu ser outra, fazer de conta que era ela mas não o ser. Passou, então, a ser duas...

segunda-feira, 20 de abril de 2015

sábado, 18 de abril de 2015

(imagem daqui)

Fui mulher tantas vezes nas tuas mãos que eram ternas. Não sei, agora, sê-lo. De mim, resta a sombra que não sabe perder-se de ti, quando a ternura das tuas mãos já não é minha.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Palavras

(Gustav Klimt-water serpents)

Nunca temi as palavras. Uso-as com doçura, com agressividade. Uso-as polidas, desabridas, pudicas, ardentes. As palavras, mesmo as não ditas, são a minha essência. Tenho saudades de dizer-tas.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Mãos



As tuas mãos. Sempre as tuas mãos, ardendo como brasas no meu corpo em ânsia pelas queimaduras de terceiro grau.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Pesa-me o lençol



Agudizam-se as lembranças na escuridão da noite. Pesa-me o lençol, carregado das imagens de ti.

amargo

(imagem daqui)

A boca sabe-lhe a ácido. A amargura não se inibe de inundar-lhe o corpo inteiro, mesmo as papilas gustativas.

domingo, 12 de abril de 2015

Inês sou, Senhores

(Sonia Marialuce Possentini)

Inês sou, Senhores, como a outra, aquela a quem mataram por de Pedro ser amante. A mim, mato-me eu, de alma inerte, que me não ama mais o meu Senhor.

Tateio

(Isaac Israëls: Woman in front of Van Gogh's Sunflowers, 1917)


Tateio


Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.

Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.

Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.

Hilda Hilst, in 'Preludios-Intensos para os Desmemoriados do Amor'

Perco-me

(Woman - Kim Molinero)

Rasga-se a carne, 
Jorra o sangue,
Morre-me a alma.
Perco-te e, perdendo-te,
Perco-me.