(Gonzalo Orquín)
Ícaro
A minha Dor, vesti-a de brocado, 
Fi-la cantar um choro em melopeia, 
Ergui-lhe um trono de oiro imaculado, 
Ajoelhei de mãos postas e adorei-a. 
Por longo tempo, assim fiquei prostrado, 
Moendo os joelhos sobre lodo e areia. 
E as multidões desceram do povoado, 
Que a minha dor cantava de sereia... 
Depois, ruflaram alto asas de agoiro! 
Um silêncio gelou em derredor... 
E eu levantei a face, a tremer todo: 
Jesus! ruíra em cinza o trono de oiro! 
E, misérrima e nua, a minha Dor 
Ajoelhara a meu lado sobre o lodo. 
José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo' 

 
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